A Morte Não é o Fim

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A morte não é o fim. A morte não pode nunca ser o fim. Ela é a estrada. A vida é o viajante, e a alma é o guia. Quando o viajante está muito cansado, exausto, o guia instrui-o a ter um descanso breve ou prolongado e, então, a jornada do viajante recomeça.

Na vida comum, quando um homem não-aspirante mergulha no pântano da ignorância, isso é a verdadeira vitória da morte. Na vida espiritual, quando um aspirante não clama por luz, bem-aventurança e poder mais elevados, isso é o nascimento da sua morte.

O que podemos aprender da vida interior, a vida que deseja a extinção da morte? Ela diz-nos que a vida é devotadamente preciosa, e que o tempo é frutiferamente precioso. A vida sem a aspiração do tempo é desprovida de significado. O tempo sem a aspiração da vida é isento de utilidade.

A nossa mente pensa na morte. O nosso coração pensa na vida.  A nossa alma pensa na Imortalidade.  A Mente e a morte podem ser transcendidas. O coração e a vida podem ser expandidos.  A Alma e a Imortalidade podem ser satisfeitas.

Quando a mente e a morte forem transcendidas, o homem terá um novo lar: Luz, Luz Além. Quando a alma e a Imortalidade forem satisfeitas, o homem terá uma nova meta: Deleite, Deleite transcendental.

Hoje, o homem sente que a morte é uma necessidade inevitável. Amanhã, o homem sentirá que a Imortalidade é uma realidade certa.

Infelizmente, a maioria de nós acalenta conceitos errados sobre a morte. Pensamos que a morte é algo estranho, destrutivo. Mas devemos saber que, por enquanto, a morte é algo natural, normal, e, até certo ponto, inevitável. O Senhor Krishna diz a Arjuna: “Ó Arjuna, certa é a morte para os nascidos e certo é o nascimento para os falecidos. Portanto, o que é inevitável não deve motivar tristeza.”

O Chandogya Upanishad nos diz algo notável: “Quando a hora da morte se aproximar, o que deveremos fazer? Deveremos refugiar-nos em três pensamentos sublimes: nós somos indestrutíveis; não podemos nunca ser abalados; somos a própria essência da vida.” Quando a hora da morte se aproxima, se sentirmos que não podemos ser destruídos, que nada nos pode abalar e que somos a própria essência da vida, então, onde haverá tristeza, onde haverá medo, onde haverá morte? Não há morte.

Sarada Devi, cônjuge de Sri Ramakrishna, disse algo muito significativo: “A diferença entre um homem espiritual e um homem comum é bastante simples. Facilmente pode-se saber a diferença entre os dois. Um homem comum chora e derrama lágrimas amargas quando a morte se aproxima dele, enquanto um homem espiritual, se for realmente espiritual, ri quando a morte se aproxima, pois para ele a morte é divertida, nada mais.”

Devemos saber que um homem espiritual toma parte no Jogo Cósmico, tornando-se um instrumento consciente desse Jogo. Por isso sabe que a morte não é uma extinção; sabe que a morte não é nada além de um curto ou longo descanso.

Novamente teremos de retornar ao mundo, trabalhar por Deus aqui na Terra. Não há escapatória. Temos de realizar o Altíssimo aqui na Terra, satisfazer o Altíssimo na Terra. Deus não permitirá que desperdicemos ou esbanjemos os potenciais e possibilidades da alma. É impossível.

O aforismo imortal de Kipling diz-nos:

“Eles retornarão, novamente retornarão,
Enquanto a Terra vermelha girar.
Se nunca desperdiçou uma folha ou árvore,
Acha que Ele desperdiçaria almas?”

Cada encarnação leva-nos em direção a uma vida mais elevada, uma vida melhor. Estamos em processo de evolução, e cada encarnação é um degrau na escada da evolução. O homem está a progredir consciente e inconscientemente. No entanto, se conscientemente faz progresso em cada encarnação, então estará a adiantar a sua evolução espiritual. A realização sucederá muito mais cedo para ele do que para os que estão a fazer progresso de forma inconsciente.

Sabemos que começamos a nossa jornada na vida mineral e depois passamos à vida vegetal. Em seguida entramos no reino animal, e de lá vamos para o mundo humano. Mas esse não é o fim. Temos de nos tornar seres divinos. Deus não estará satisfeito connosco até nos tornarmos seres divinos. Ele poderá manifestar-Se em e através de nós apenas quando estivermos completamente transformados e iluminados. Portanto, quando pensamos na nossa evolução – evolução interior e evolução exterior – deveríamos sentir uma alegria abundante. Nada perdemos, na assim chamada morte.

Jalalu’d-din Rumi fala-nos sobre a evolução de uma forma muito bela e plena de alma:

“Como pedra morri e, em seguida,
Uma planta me ergui;
Como planta morri, e um animal nasci;
Como animal morri, e um homem nasci.
Porque deveria temer?
O que perdi com a morte?”

 

O que é, enfim, a morte? A morte é uma criança adormecida. E o que é a vida? A vida é uma criança que brinca, canta e dança diante do Pai a cada momento. A morte é a criança adormecida dentro do Coração do Piloto Interior. A vida é inspiração. A vida é aspiração. A vida é realização. A vida não é a mente que raciocina. A vida não é a mente intelectual. A vida não é um jogo de frustração. Não, a vida é uma mensagem da divindade na Terra. A vida é o canal consciente de Deus para satisfazer a divindade na humanidade aqui na Terra.

Há muita verdade no que Confúcio disse: “Não conhecemos a vida. Como poderíamos conhecer a morte?” Mas eu gostaria de vos dizer que nós podemos conhecer a vida. Se percebermos que a vida é Deus incorporando a verdade, luz, paz e bem-aventurança, então saberemos o que a vida verdadeiramente é, e reconheceremos a morte como nada além de um descanso – algo necessário no nosso presente estágio de evolução.

Chegará o dia em que esse descanso não será de forma alguma necessário. Apenas a Vida reinará suprema – a Vida do sempre-transcendente Além. Essa Vida não é e nem pode ser monopólio de um indivíduo. Cada ser humano deve ser inundado com ela, pois é nessa Vida Divina do sempre-transcendente Além que Deus se manifestará em Si mesmo, sem reservas, na Terra.

Excerto retirado do Livro “Morte e Reencarnação” de Sri Chinmoy