Numa vida humana normal, a inveja é comum. Nós não estamos conscientes do facto de que a inveja pode arruinar todas as nossas possibilidades e destruir todas as nossas potencialidades interiores. Por isso mesmo, nós nem sequer tentamos transcender ou conquistar a inveja.

Nós temos inveja dos outros porque eles têm determinadas capacidades ou alcançaram algo na vida que nós não temos ou não fomos capazes de alcançar. Mas vejamos até onde a inveja pode levar-nos. A inveja não poderá nunca expandir a nossa consciência. Pelo contrário, juntamente com a inveja veremos que a limitação entrará em nós. Quando a limitação entra, a imperfeição, o seu amigo, entra com ela. A imperfeição é sempre seguida pela destruição. Quando nos tornamos invejosos dos outros, abrimos a porta para que estes três irmãos possam entrar – limitação, imperfeição, e destruição – surgindo um atrás do outro.

Inveja,

Tu és um ladrão da pureza da minha mente,

Tu és um intruso da paz do meu coração,

Tu és o invasor da divindade da minha vida!

Inveja, admiração ou competição?

Qual é a diferença entre a inveja e a admiração? Numa admiração sincera, tu terás o sentimento de um ideal para a tua vida. Talvez tu não consigas fazer o que a outra pessoa conseguiu alcançar, mas tu admira-lo e às suas ações. Isso significa que tens uma vontade espontânea em alcançar ou crescer na própria ação que ele haja alcançando. Este tipo de admiração sincera não é um sinal de inferioridade. Pelo contrário, é muitas das vezes um sinal do reconhecimento recíproco de duas almas.

A inveja é algo completamente diferente. Se tiveres inveja das façanhas de alguém, irás sentir que estás pronto a apunhalar essa pessoa se te for dada essa possibilidade. Podes tentar ocultar a tua inveja porque sentes que tanto no teu mundo interior como exterior serás apanhado em flagrante. Mas apenas a própria presença da inveja dentro de ti é extremamente prejudicial.

Por vezes a inveja surge de um sentimento de competição. Queremos ultrapassar os feitos de outros. Mas deixemos de competir com os outros para mostrar a nossa supremacia. Em alternativa, pensemos na necessidade para o nosso progresso. Tentemos apenas transcender as nossas próprias capacidades. O que é de grandiosa importância é a nossa atitude como indivíduo. Temos de sentir que estamos a transcender as nossas capacidades, não para nossa glória, mas tendo em vista o aumento da capacidade e da melhoria do padrão da humanidade. Depois, com um coração devoto e dedicado, devemos oferecer os nossos feitos a Deus, que é a Origem.

Conquistando a inveja

Existem muitas maneiras práticas para conquistar a inveja. A forma normal humana é dizer para ti mesmo, “Eu consigo cantar bem melhor do que aquela pessoa, mas eu não vou cantar pois assim estarei a perder o meu tempo.” Esta é uma forma esperta de te fazeres sentir que és melhor que aquela outra pessoa. A forma espiritual de conquista da inveja é sentir que és um com a pessoa que está a ser objeto da tua inveja. Por exemplo, se alguém é melhor ator do que tu, sente que és tu quem está a atuar. Desta forma, consegues conquistar a inveja e ao mesmo tempo, expandir a tua própria consciência.

Assim que a tua inveja tenha desaparecido, imediatamente sentirás que a pessoa de quem sentias inveja se tornou num amigo perfeito. Sentirás bondade e amor para com ele ou ela. Finalmente, irás sentir-te aliviado por a flecha-inveja ter sido retirada do teu sistema.

Quando estabelecemos a nossa unidade com a Fonte, que é Deus, não poderemos jamais sentir inveja por ninguém. Se sentirmos que a nossa realidade é Deus, então cada indivíduo é como um membro do nosso corpo espiritual, consciente, dedicado e devoto. Se todos eles forem membros do meu corpo, então eles fazem parte da minha existência. Como posso eu ter inveja deles? Se estabelecermos uma inseparável unidade com a Fonte, o problema da inveja será facilmente resolvido.

Tu conseguirás conquistar o teu sentimento de inveja amando mais a Deus. Podes ter inveja de alguém por ser um grande fotógrafo. Uma vez mais, ele pode ter inveja de ti por seres um grande repórter. Este tipo de inveja nunca terminará. Mas existe uma terceira parte que é responsável por ambos, que é Deus. Se amares a Deus e te tornares um com Ele, então serás capaz de te identificar com as capacidades de outros. Se te tornares um com a Origem da capacidade, então a questão da inveja não é levantada. Se realmente queres conquistar a inveja, então ama Aquele que deu todas as capacidades a ti e a todos os outros.

A picada-inveja

É uma doença.

O seu remédio perfeito e garantido

É a unicidade audaz.

Apenas te magoas a ti mesmo

Se passarmos o tempo a nutrir pensamentos negativos acerca de alguém – inveja, dúvida, ou raiva – então, efetivamente, estaremos a transformar essa pessoa no nosso mestre. Devemos ser muito cautelosos no tempo que passamos a pensar nos outros e em quanto tempo passamos a pensar no Supremo. Se desperdiçamos o tempo a pensar nos outros com a nossa dúvida, inveja, raiva e outras forças negativas, então o nosso progresso será retardado.

Se quisermos fazer maiores progressos, não devemos criticar ninguém ou falar mal de ninguém. Temos problemas pessoais que cheguem. Quando criticamos alguém trazemos à nossa consciência os problemas que ele carrega. Deixemo-nos de críticas; deixemo-nos lutar apenas pela nossa perfeição. Devemos ser responsáveis por nós mesmos e deixar os outros serem responsáveis por eles mesmos. Desta forma, cada um terá ampla liberdade em alcançar o seu objetivo.

O punhal-inveja da tua mente

Feriu-te gravemente.

Se quiseres ser curado,

Tenta descobrir o mais depressa possível

As chamas do teu coração-aspiração.

A medicina-meditação 

Não é na verdade o sentimento de medo, ou dúvida, ou inveja que nos deixa miseráveis, mas os efeitos secundários, quando nos tornamos conscientes do que fizemos. Uma vez que já sofremos dos efeitos secundários muitas vezes, devemos tomar medidas imediatas de forma a nos curarmos. Na Índia, quando as pessoas estão a sofrer de malária, os médicos prescrevem quinina. A quinina é muito amarga. Quando alimentas a inveja, nesse momento a meditação é como a quinina, muito amarga e seca. Mas se souberes que este remédio-meditação te irá curar da tua febre de dúvida, medo e inveja, a melhor coisa a fazer é tomá-lo.

Antes de começares a meditar, repete estas quatro frases: “Medo, sai da minha vida! Dúvida, sai da minha vida! Inveja, sai da minha vida! Insegurança, sai da minha vida! Eu não preciso de vós e nunca precisarei.” Então eles sairão de ti e perguntar-te-ão, “De quem precisas?” tu responderás, “Eu quero apenas meditar; eu quero apenas Deus. A prova é que eu consigo viver sem vocês, mas vocês nunca conseguirão viver sem mim. Medo, tu não consegues viver sem mim; é por isso que te vens refugiar no meu corpo. Inveja, tu não consegues viver sem mim, é por isso que te vens abrigar no meu vital. Dúvida, tu não consegues viver sem mim, é por isso que vens e tomas refúgio na minha mente. Insegurança, tu não consegues viver sem mim, é por isso que vens tomar refúgio no meu coração.” Quando desafiares estes quatro de uma forma divina, eles dirão que está abaixo da sua dignidade permanecerem em ti. “Se consegues viver sem nós, como é que nós não podemos viver sem ti?” perguntam eles e, em seguida, partem. Nesse momento tu terás a tua perfeita meditação.

Queres conquistar

A febre da inveja perpétua?

Vou dizer-te um grande segredo:

Ama apenas e torna-te um

Com o teu coração-unicidade.

Texto retirado do livro “Asas da Alegria” de Sri Chinmoy