Perdoa e Esquece

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Quando estás zangado, pergunta primeiro a ti mesmo se estás a fazer a coisa certa em permanecer zangado. Se alguém fez uma coisa horrível, conseguirás mudar a sua natureza se o insultares, punires, repreenderes? Impossível! Imagina que alguém fez algo de errado e tu repreendeste essa pessoa. Ele fica extremamente arrependido e derrama lágrimas de amargura. Se procurares no interior de ti, irás sentir pena de que agora aquela pessoa esteja triste e miserável. Se fores sincero, irás ver que tu fizeste muitas coisas ainda piores do que aquela pessoa que agora repreendeste. Podes até começar a chorar ou a sentir remorsos pelos milhares de coisas que fizeste de mal na tua vida. Desta forma, a angústia nunca termina. A melhor alternativa é não ficares zangado. Sente apenas que é uma experiência que tiveste durante alguns segundos.

Podes esquecer a tua raiva temporariamente, mas se não a tiveres iluminado, ela ainda poderá puxar-te para baixo. Digamos que tiveste uma má experiência durante o dia. Umas horas depois já esqueceste essa experiência. A menos que tenhas perdoado a pessoa envolvida, não conseguirás iluminar a tua raiva. A raiva ainda te poderá puxar alguns degraus para baixo da tua escada da consciência. Por vezes discutes com alguns membros da tua família e vais dormir. Na manhã seguinte descobres que não és capaz de meditar. Esqueceste totalmente aquele incidente, mas enquanto dormias, a raiva ia aumentando a sua força. Quando alguma coisa corre mal, o melhor é corrigi-la e iluminá-la imediatamente.

Encontramos duas maneiras de iluminar a raiva. Uma é ampliando o teu coração. Se foste aborrecido, usa o teu poder de identificação. Sente que foste tu mesmo, ou uma parte da tua própria consciência, que fez algo de errado. Quanto mais depressa te vires livre da ideia de que tenha sido outro alguém a fazer-te algo de errado, melhor irás ficar.

A segunda forma é pensar em te aperfeiçoares. Quando deixares de pensar em aperfeiçoar os outros e apenas te importares com a tua própria aspiração, serás libertado da raiva. Em vez de olhares em volta para veres quem te está a bloquear o caminho, presta apenas atenção à tua própria auto-descoberta. Quando tiveres descoberto o teu Ser verdadeiro, irás ver que não existe ninguém imperfeito na terra. Todos são perfeitos em ti.

“Ontem eu era inteligente.
Era por isso que queria mudar o mundo.
Hoje eu sou sábio.
E é por isso que me estou a mudar a mim mesmo.”

Quando os outros estão Zangados

Quando os outros te atacam com o poder negativo da raiva, podes encontrar refúgio num poder infinitamente superior – a Compaixão do Supremo. Se tu invocares a Compaixão do Supremo, que é infinitamente mais poderosa que a raiva humana, então serás capaz de inundar os outros com essa Compaixão. Esta é a única forma que te trará satisfação duradoura.

Se não consegues invocar o poder maior, então tens de usar a segunda melhor alternativa, que é a abordagem humana. Permanecer indiferente. O teu poder da indiferença consegue criar uma parede sólida que a raiva não consegue penetrar. Se alguém estiver zangado contigo, sente apenas que nada tens a ver com aquela pessoa, e que ela nada tem a ver contigo. Sente que o teu mundo é totalmente diferente do dela. Desta forma, tu permanecerás no teu mundo-indiferença e a outra pessoa permanecerá no seu mundo-raiva.

No entanto, poderás não conseguir permanecer indiferente por muito tempo. O teu poder agressivo poderá revelar-se: “Se ele me pode magoar, eu também o posso magoar a ele.” Mas se alguém te atacou, a tua atitude deve ser diferente. Ele pode ter atacado com o intuito de te destruir, mas tu podes ripostar com o intuito de o transformar. Se alguém está zangado, isso significa que não está em paz; falta-lhe a riqueza-paz urgentemente. Se tu tiveres mais do que precisas, se fores generoso, podes facilmente dar-lhe alguma da tua riqueza interior. Mas se tiveres apenas uma quantidade limitada de paz, como poderás tu dá-la aos outros? Deves guardar para ti mesmo a quantidade que necessitas. Primeiro deves aumentar a quantidade de paz na tua própria vida. Em seguida podes, sim, facilmente repartir essa riqueza interior com a pessoa que está zangada. Mas quando repartes a tua paz com os outros, deves fazê-lo de forma secreta. Se disseres verbalmente a alguém que ele necessita de paz, ele poderá ficar furioso. Em segredo, como um ladrão divino, entra no seu coração e na sua mente e oferece-lhe paz.

Excerto retirado do Livro “Asas da Alegria” de Sri Chinmoy